De pé, ainda de pé. Já nada guardas, coitada. Um resguardo efémero de tanto segredo que guardaste. Recordarás para sempre aquela sensação de protecção e aconchego que oferecias aos que se abrigavam nesse teu refúgio. Quantas gerações te atravessaram e quantas mãos te forçaram tentando, em vão, invadir o espaço que proteges? Como um soldado que se abandona à fúria destruidora do inimigo, também tu decidiste suspirar pela derradeira vez e aí ficaste, de onde afinal nunca saíste, encaixilhada para sempre nesse teu inerte caixão de pedra.
Mesmo na nudez das árvores, nesta solidão de inverno, no voo e canto diverso de pássaros, florescem inesperadamente os jarros, as violetas, os junquilhos, os narcisos, as camélias.
Nas nespereiras já se vêm os frutos dourados....
Cada vez se esgota mais o tempo de duração e tanto bem haja por dizer...
Tenham um bom dia, com sol e o azul do céu.
(Alguém me disse...já andas a procurar a primavera? Olha que Janeiro quente traz o diabo no ventre) ...
A recordação é o perfume da alma. É a parte mais delicada e mais suave do coração, que se desprende para abraçar outro coração e segui-lo por toda a parte.
Sempre se volta aos lugares de felicidade. Sempre é uma palavra muito difícil. Como nunca. As simples coisas resolvem estes excessos de linguagem que tanta vez nos traem nas intempestivas emoções.
A natureza fala da espontaneidade do acontecer na circularidade do tempo, numa festiva espiral de vida e morte, de renovação por dentro. Do húmus da terra, o que morreu torna-se verde e recebe a cor das folhas mortas, dos frutos da época, dos galhos secos, numa pacífica aceitação.
As florestas, os bosques, os campos continuarão a chorar no silêncio de sua linguagem onde o canto dos pássaros nos ensina a linguagem imperceptível a ouvidos moucos...
Terra, chão, essa pertença dos deuses e dos antigos, dos duendes, das fadas, dos seres que lhe pertencem, que a servem numa entrega de bondade incondicional.